Extraterrestres em conserva

Um brinquedo decorando a mesa de Hellblazer. E também um brinquedo promovido como algo real, comumente associado ao chamado “caso Salinas”, que envolve em verdade um outro suposto extraterrestre. Que não está em conserva. E que abordaremos logo em seguida.
A associação deste brinquedo com o caso Salinas é curiosa porque Jorge Martín, um dos principais divulgadores do caso, também promoveu um 1997 ainda outro caso envolvendo um alienígena em conserva que acabou revelando ser um brinquedo. De forma que temos nada menos que três casos aqui: o brinquedo exibido nestas imagens, o caso Salinas — que não é um brinquedo –, e o caso envolvendo ainda outro brinquedo, especificamente um chaveiro, sendo que estes dois últimos estão associados a Martín.
Nenhuma razão para confusão, não?

O brinquedo aqui é feito de látex, incluindo a gosma mais fina que recobre o alienígena. Pode ser comprado por menos de 50 dólares já há vários anos, em diversas lojas especializadas em brinquedos singelos desta natureza. Isto é: todas as fotografias você confere aqui são do mesmo brinquedo, mas não são do mesmo objeto — você pode notar que são vários potes diferentes, e os extraterrestres são todos feitos do mesmo molde, mas não são o mesmo boneco individual.

Alienígenas em potes são um tema recorrente. Outra imagem popular pela rede é esta:

Que é ainda outro brinquedo, este ainda mais barato. Vem mesmo com um “chaveiro de alienígena em pote” menor de brinde. Não sei se este seria o chaveiro que enganou a Jorge Martín em 1997.

Pode-se notar, com certa atenção, que a imagem original não apenas exibe exatamente o mesmo modelo de pote, como que o pote também era feito de plástico — perceba a junção e rebarba característica das duas metades do pote, algo comum em recipientes de plástico injetado.
Em 2006, o inglês Barney Broom promoveu a “descoberta misteriosa de um extraterrestre em seu sótão“, uma história que foi divulgada no The Guardian e BBC, mas por algum motivo não foi muito mais longe. Era um boneco maior, pelo visto exclusivo, ao contrário destes vendidos em massa, mas o único elemento inexplicável é que ainda assim não fez tanto sucesso quanto eles.

Mas é fácil entender por que aliens em conserva fazem tanto sucesso: capturar monstros dentro de garrafas é uma imagem arquetípica derivada de museus de curiosidades existentes há séculos. Outro caso recente ilustra a conexão de forma particularmente clara.
Também no ano de 2006, Piotr Cielebias promoveu a seguinte história:
“Local: Kuala Pahang, Pahang, Malásia
Data: 20 de fevereiro de 2006
Hora: dia
Um pescador, Ahmad Affendi, 22, e alguns amigos encontraram uma pequena garrafa na praia. Depois de chacoalhá-la, ele percebeu que havia um pequeno ser em seu interior, medindo em torno de 15 cm de altura. O pequeno ser, que era esverdeado e possuía um par de olhos vermelhos, não se movia. Ele foi envolto em panos negros e amarrado com um cordão branco. Ahmad Affendi o levou a um ancião, Ismail Omar, 94, que então abriu a garrafa. Ele disse que o ser ainda estava vivo. A testemunha o levou para a polícia, mas foi aconselhado a levá-lo para o museu. Lá, mais de 600 pessoas puderam observar o estranho ser, mas infelizmente devido a crenças supersticiosas eles o jogaram de volta ao mar menos de 24 horas depois. É uma crença popular na Malásia que tais criaturas têm efeitos espirituais negativos e não devem ser conservadas”.
Assemelha-se a um alienígena em conserva, não? Certamente este é o contexto em que a história foi divulgada por Cielebias.
Mas como Luis Noguez notou, a lenda é em verdade relacionada mesmo ao folclore malaio. A criatura é um Jenglot, uma espécie de vampiro lendário. Outras fotos deixam claro que é simplesmente um boneco pintado de negro.

De vampiros malaios a chaveiros de alienígenas em potes, esta é a situação atual de extraterrestres em conserva.
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Fonte
- Noguez, L, “Enlatados: Extraterrestres en Conserva”, pp 87-124, Extraterrestres ante las cámaras, vol 2, Lulu, 2009.
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